terça-feira, 11 de setembro de 2012

Lucy And The Popsonics no Sonzera - 15/09

Foto:Nicolas Gomes

Lucy & The Popsonics

Por Rodrigo Levino

Três anos após o bem sucedido lançamento de ‘A fábula (ou a farsa?) de dois eletropandas’, álbum de estréia que amealhou elogios da crítica especializada e tornou possível pequenas turnês nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e a escalação para o festival Planeta Terra 2007, o duo brasiliense Lucy & The Popsonics lança ‘Fred Astaire’ (Monstro Discos).

Para o disco é inescapável o epíteto-clichê ‘maduro’. A farsa citada como ironia no debut não se sustenta nem como piada em ‘Fred Astaire’, pois ele contém o que garante a consolidação da carreira da dupla: músicos mais seguros, arranjos melhor produzidos, letras ainda mais irônicas e bem humoradas, um baterista de carne e osso que junto de Lucy confere ainda mais peso à performance da banda, além da boníssima companhia de John Ulhôa, produtor do trabalho. Os elementos sonoros são os de sempre e a casa faz boa serventia de rock eletropunk e se permite ao inusitado, como o sampler country que abre o disco em ‘Multitarefa’ e a versão de ‘Refuse/Resist’, do Sepultura.

É um disco maduro também porque em três anos a vida de Pil (guitarras e samplers) e Fernanda (baixo e vocais) mudou substancialmente. Há um casamento entre um álbum e outro, alguns concursos públicos, mais de uma centena de shows e uns milhares de quilômetros atravessando o país e dois continentes para realizar shows. O reflexo das transformações vê-se nas letras. Os elementos inspiradores deixaram de ser apenas os estereótipos cruelmente ironizados (‘O som do mp3 melhora no K7 / No lado A da fita cabe o B do Indietracks/ As melhores bandas são as de abertura / A cena mais bacana é a indiefolk da Albânia’, BiffBang Pop) e se voltaram também para a vida a dois, a dificuldade de levar adiante a carreira e os horários do emprego burocrático (‘Vivo numa maquete / me sinto um rato branco / sou um experimento / trabalho em um banco’, Fred Astaire).

O resultado tem um traço de melancolia, mas logo se esvai com sarcasmo e no meio do set tem alguém perguntando numa canção de amor pelo avesso ‘Por que você não morre?’, precedendo ‘Ziggy’, uma das melhores faixas do disco e ode a David Bowie, cuja letra resume a saga de um fã obsessivo como um pequeno roteiro de ficção científica, que aliás vem bem a calhar com os elementos etéreos dos sintetizadores.

Os pouco mais de 40 minutos de ‘Fred Astaire’ chegam ao fim com ‘Cosmonauta’ e ‘Oito-bits’. Aquela, burlesca e debochada, refere-se aos russos e sua corrida espacial e brinda com um refrão pegajoso e melódico. A cereja do bolo, no entanto, é ‘Oito-bits’. É impossível ficar incólume à voz sussurrada e provocante de Fernanda pedindo que ‘use duas outras notas / e cante que me ama em oito bits’. É provável que você atenda, hipnotizado, e só depois se dê conta que é apenas um disco delicioso como a voz da vocalista, dançante como uma batida repleta de boas referências de estilo e seguro como a maturidade é capaz de fazer.


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