Foto:Nicolas Gomes |
Lucy & The Popsonics
Por Rodrigo Levino
Três anos após o bem sucedido lançamento de ‘A fábula (ou a
farsa?) de dois eletropandas’, álbum de estréia que amealhou
elogios da crítica especializada e tornou possível pequenas turnês
nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e a escalação para o
festival Planeta Terra 2007, o duo brasiliense Lucy & The
Popsonics lança ‘Fred Astaire’ (Monstro Discos).
Para o disco é inescapável o epíteto-clichê ‘maduro’. A farsa
citada como ironia no debut não se sustenta nem como piada em
‘Fred Astaire’, pois ele contém o que garante a consolidação
da carreira da dupla: músicos mais seguros, arranjos melhor
produzidos, letras ainda mais irônicas e bem humoradas, um baterista
de carne e osso que junto de Lucy confere ainda mais peso à
performance da banda, além da boníssima companhia de John Ulhôa,
produtor do trabalho. Os elementos sonoros são os de sempre e a casa
faz boa serventia de rock eletropunk e se permite ao inusitado, como
o sampler country que abre o disco em ‘Multitarefa’ e a versão
de ‘Refuse/Resist’, do Sepultura.
É um disco maduro também porque em três anos a vida de Pil
(guitarras e samplers) e Fernanda (baixo e vocais) mudou
substancialmente. Há um casamento entre um álbum e outro, alguns
concursos públicos, mais de uma centena de shows e uns milhares de
quilômetros atravessando o país e dois continentes para realizar
shows. O reflexo das transformações vê-se nas letras. Os elementos
inspiradores deixaram de ser apenas os estereótipos cruelmente
ironizados (‘O som do mp3 melhora no K7 / No lado A da fita cabe o
B do Indietracks/ As melhores bandas são as de abertura / A cena
mais bacana é a indiefolk da Albânia’, BiffBang Pop) e se
voltaram também para a vida a dois, a dificuldade de levar adiante a
carreira e os horários do emprego burocrático (‘Vivo numa maquete
/ me sinto um rato branco / sou um experimento / trabalho em um
banco’, Fred Astaire).
O resultado tem um traço de melancolia, mas logo se esvai com
sarcasmo e no meio do set tem alguém perguntando numa canção de
amor pelo avesso ‘Por que você não morre?’, precedendo ‘Ziggy’,
uma das melhores faixas do disco e ode a David Bowie, cuja letra
resume a saga de um fã obsessivo como um pequeno roteiro de ficção
científica, que aliás vem bem a calhar com os elementos etéreos
dos sintetizadores.
Os pouco mais de 40 minutos de ‘Fred Astaire’ chegam ao fim com
‘Cosmonauta’ e ‘Oito-bits’.
Aquela, burlesca e debochada, refere-se aos russos e sua corrida
espacial e brinda com um refrão pegajoso e melódico. A cereja do
bolo, no entanto, é ‘Oito-bits’. É
impossível ficar incólume à voz sussurrada e provocante de
Fernanda pedindo que ‘use duas outras notas / e cante que me ama em
oito bits’. É provável que você atenda, hipnotizado, e só
depois se dê conta que é apenas um disco delicioso como a voz da
vocalista, dançante como uma batida repleta de boas referências de
estilo e seguro como a maturidade é capaz de fazer.
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