É bem provável que o quarteto Vitrine não almeje ocupar o nicho no mercado fonográfico que está vago desde o fim do Legião Urbana (mesmo com as tentativas fracassadas do esquecível Catedral, por exemplo), e isso é muito bom. Até porque esse tal mercado mudou absurdamente de vinte anos pra cá (leia-se ninguém mais compra discos e o mercado de download pago aqui na terra da Claudia Leitte engatinha) e também porque talvez as coincidências existentes estejam só nas origens locais e musicais de ambas as bandas: Brasília e pós-punk, respectivamente.
Ouvindo o single Zero Hora - lançado no final do ano passado - dá pra perceber que o gosto por palhetadas vigorosas de guitarra e baixos bem cadenciados não fazem do Vitrine the next big thing nem trazem nenhum tipo de esperança de que o bom rock, um dia, vai triunfar. Porque, acredite, não vai. Daqui pra frente é ladeira abaixo. Simples assim. É só dar uma olhada à sua volta. Pega o Brasil Hot 100 Airplay da Billboard e me diz se tem alguém que se salva ali. Não tem. Mas o que o Vitrine oferece então? Numa palavra: honestidade. Penso que esses caras acreditam no que estão fazendo, no que estão cantando - mesmo que isso remeta à uma época (sim, os anos 80) em que não seria constrangedor ouvir um verso como "Sou tão velho para entender/Tão jovem pra me ajoelhar" ("Submissão") ou fechar os olhos e visualizar Ian McCulloch cantando o refrão de "Esther", sob uma linha de baixo pulsante. A canção pra se estar atento aqui, no entanto, é inegavelmente a faixa-título. Bateria e guitarra duelando à Strokes e um refrão pop prontinho pra grudar na memória. E assim - sem camisas xadrez ou bigodinho indie, sem um nome pseudo-engraçadinho, sem cabecices ou politizações vazias - o Vitrine chega no seu single de estréia, produzido por Philippe Seabra (Plebe Rude), apostando na lógica invertida do "pra que complicar se a gente pode simplificar?". Go ahead, rapazes.
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