terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sonzera! apresenta Watson e Suíte Super Luxo - dose dupla dia 19/02

Novas colinas e velhas chapadas — ou zeitgeist do Watson

Por Pedro Brandt

o ano do cinquentenário da capital do Brasil, a efeméride teria tido bem mais graça com a vinda de Paul McCartney para cantar parabéns pra você diante do brasiliense. Um escândalo político de proporção
histórica a menos também nos faria bem. Mas no futuro, eu gostaria de lembrar de 2010 por outros e melhores motivos. E, com certeza, lembrarei deste ano por conta do lançamento do primeiro disco
do Watson. Batizado com o nome do quarteto formado por Miguel Martins (voz, guitarra e autor das composições), Adriano Brasil (baixo), Filipe Vianna (guitarra, voz e teclados) e Augusto “Jack” Coaracy (bateria), o disco reúne algumas das melhores músicas que eles fizeram desde 2002 (quando ensaiaram pela primeira vez, ainda sem a guitarra de Filipe). Tantas outras boas canções, tão boas quanto essas 12 faixas que entraram no CD, acabaram de fora. Prova do talento e da produtividade dos rapazes. Em Watson, a banda rearranjou músicas antigas, fez pequenos ajustes em outras mais recentes e gravou pela primeira vez algumas inéditas. Em todos os casos, as composições ganharam seus registros definitivos, suas melhores versões. Para isso, contaram com a ajuda dos irmãos Dreher, Gustavo e Thomas (este, dono do estúdio em Porto Alegre onde o disco foi gravado em julho de 2009), dois dos mais competentes produtores do Brasil. Miguel, um cronista de sua época, faz de suas composições um autêntico zeitgeist. O guitarrista capta com sensibilidade ímpar o espírito do momento em que vive. Um reflexo de quem saiu da adolescência e entrou na vida adulta na última década e deu de cara com o tédio da rotina, os relacionamentos partidos, as decepções, novas responsabilidades e desafios de se ter 20 e poucos anos. Nas letras, está também a percepção de quem vive numa cidade que não tem esquinas (só conversa de bar, como eles cantam em Tupanzine), mas que é muito mais do que o funcionalismo público e a acomodação apática dentro dos apartamentos das superquadras. Brasília é metrópole e interior, conforto e rebeldia, amor e ódio, modernismo retrô e novidade, novas colinas e velhas chapadas. De certa forma, como o próprio Watson. Nas músicas, estão lá os Beatles, Jeff Buckley e Minutemen. E também Caetano Veloso, Stone Roses e Prot(o). Ou ainda Bob Dylan, Pavement e Blur. Mas eles não soam exatamente como nenhum deles. Não espere referências obvias. Afeitas a melodias memoráveis e riffs ganchudos (por vezes violentos), as guitarras travam tanto diálogos quanto duelos. A cozinha é elegante e precisa (e pesada se necessário). E, claro, difícil não comentar a inconfundível voz do Miguel, por vezes macia, por vezes trovão. O Watson não inventou a roda, mas a está rodando a sua maneira. Tudo uma questão de estilo. A banda já entrou para o rol das cult bands brasilienses e seu disco é desde já item indispensável na discografia do rock de Brasília. Se vão alcançar um público maior, fama e reconhecimento já é outra conversa. E quer saber, isso é o de menos. Se você está lendo isso, já
sabe do que eles são capazes.

Pedro Brandt é jornalista de cultura do Correio Braziliense.

Sonzera! apresenta Suíte Super Luxo + Watson.
Discotecagem: Carolina Woortmann e Dj Amarelo.
Quando: 19/02
Preço único: R$10,00
Onde: Balaio Café - 201 Norte
A partir das 22:00h
Mais informações: http://balaiocafe.com.br
 

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